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Cidade do Samba 2, é apontada como solução para insalubridade de Barracões da Série Ouro

Pragas, incêndios e sujeira são apontadas como parte da rotina nesses espaços atualmente; fogo em Fábrica nesta última quarta-feira (12) é retrato das condições dos trabalhadores do Carnaval

Os funcionários que trabalhavam na Fábrica de Fantasias tomada pelo fogo em Ramos, nesta última quarta-feira (12), eram terceirizados das Escolas de Samba da Série Ouro. Durante o resgate, alguns relataram que dormiam no local. O estabelecimento funcionava sem autorização dos bombeiros. Esse incêndio foi apenas um retrato das condições insalubres vividas por trabalhadores do Carnaval. Diferentemente do Grupo Especial, que concentra toda a produção de Alegorias e Fantasias em seus Barracões, a Série Ouro tem seu trabalho feito em Barracões improvisados em Galpões e terrenos na Zona Portuária, no Centro e na Avenida Brasil.

Em muitos deles, só é possível montar Carros Alegóricos (mesmo assim, com obstáculos). Há relatos de infestação de ratos, além de riscos, causados pela proximidade da fiação, associada a goteiras. Edson Pereira, atualmente Carnavalesco da Unidos da Tijuca, trabalhou por 16 anos no Grupo de Acesso. Segundo ele, as situações dos Barracões da Segunda Divisão do Carnaval, no geral, são péssimas.

Tem Muita insalubridade. Com Barracões que tinham pulga, muitas das vezes não tinham teto: era sol e chuva. Incêndios (na parte elétrica) a todo momento, risco de vida, não tinha banheiro, nem forma de alimentação correta. É um trabalho análogo (à escravidão) mesmo — relata Edson.

Uma solução para o problema seria a construção da Cidade do Samba 2, no terreno da antiga Estação da Leopoldina. O Prefeito Eduardo Paes informou nesta quarta-feira (12) que a “obra está muito inicial”. Com 14 Galpões, a previsão é custo de R$ 194 milhões, e conclusão em 2027.

—Não tem lugar adequado para fazer as coisas, nem ambiente limpo e organizado. É tudo improvisado, a realidade é essa, não podemos fugir — afirma o Presidente da Estácio, Edson Marinho, que vê na nova Cidade do Samba a solução dos problemas.

Perdas grandes e julgamento suspenso às três escolas mais afetadas

O incêndio em Ramos devastou a produção de fantasias do Império Serrano, da Unidos de Bangu e da Unidos da Ponte. Mas outras agremiações do grupo de acesso devem ser impactadas, já que a fábrica também produzia partes de fantasias, esculturas e tecidos que depois seriam entregues às escolas para a conclusão das roupas em outros espaços.

—A gente está contabilizando o prejuízo — afirmou Flávio França, presidente do Império, garantindo apenas roupas para a ala das crianças e a bateria, produzidas em outros endereços.

Incêndio em fábrica de confecção de roupas para o carnaval em Ramos, na Rua Roberto Silva — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Incêndio em fábrica de confecção de roupas para o carnaval em Ramos, na Rua Roberto Silva — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Durante a noite, foi divulgado o tamanho da destruição: no Império, 97% das peças foram perdidas. Já na Bangu e na Ponte, 60% delas foram consumidas pelo fogo, além de material que seria usado para fazer outras fantasias. Na véspera, do incêndio, a Ponte chegou a compartilhar vídeo nas redes sociais, com as peças “100% prontas”. Faltava apenas ensacamento.

Mesmo com condições de se apresentarem, muitas escolas terão desfalques em sua produção. É o caso da União do Parque Acari, escola que, no ano passado, teve que refazer fantasias após uma enchente. No incêndio de ontem, foram perdidos materiais de três alas, assim como tecidos estampados.

—Muito provavelmente, esses produtos não serão mais fabricados. É uma corrida contra o tempo para tentar substituir o material ou ver o que fazer. Essa é a situação de diversas escolas do grupo de acesso, que estão nesse mesmo panorama — detalha Guilherme Estêvão, carnavalesco da Acari.

Por conta dos prejuízos, uma reunião extraordinária foi convocada pela LigaRJ, entidade que organiza a Série Ouro. Foi decidido de forma unânime que Império, Bangu e Ponte serão hors-concours, e desfilarão sem serem julgadas. Não poderão ser rebaixadas, mas também não poderão vencer o campeonato. A decisão foi ao encontro do que propôs Eduardo Paes.

Desolados, integrantes do Império Serrano foram à fábrica após o incêndio; escola perdeu 97%de suas fantasias — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Desolados, integrantes do Império Serrano foram à fábrica após o incêndio; escola perdeu 97%de suas fantasias — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O restante do regulamento está mantido: a campeã se classifica para o Grupo Especial; duas escolas serão rebaixadas; e uma agremiação sobe da Série Prata para a Série Ouro.

A menos de um mês para os desfiles, escolas do Grupo Especial poderiam ajudar na confecção de fantasias ou cedendo espaços, por exemplo. Marcelo Calil, presidente de honra da Viradouro, afirma que é solidário às coirmãs e que poderia fornecer mão de obra para a produção de novas peças. Na avaliação de Marcelo, para isso, a Liesa poderia apurar qual é a necessidade real das escolas afetadas, para que haja uma ajuda conjunta das agremiações do Grupo Especial.

Por Anna Bustamante Bruna Martins e João Vitor Costa
 — Rio de Janeiro

Extra – 100 Anos de Globo

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