Um incômodo crescente vem sendo notado nas Escolas de Samba de Bairro de São Paulo: a repetição dos temas afro, sobretudo religiosos. No Carnaval de 2025, não será diferente. É só ver os títulos dos Sambas-Enredo da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP).
A UESP reúne 65 Agremiações que estão na quarta divisão do Carnaval paulistano. Elas disputam para chegar aos dois Grupos de Acesso e, depois, ao grupo Especial. São Escolas como a Lavapés, a mais antiga em atividade em São Paulo, fundada em 1937, que vai falar de Xangô, e Uirapuru da Moca, que canta Oxóssi.

Em 2024, a Escola de Samba Em Cima da Hora Paulistana levou os nordestinos para a Avenida. É preciso variar temas.
Foto: Divulgação
“Eu não acho que deva se extinguir o tema afro, mas que as escola tenham olhos para outras realidades. Vamos falar de periferia, por exemplo, onde o negro e o pobre estão inseridos. A negritude, a africanidade, vai estar dentro desses temas. E estará como protagonista”, diz o compositor Ernesto Prata.
Da Baixada Santista e radicado em São Paulo desde a década de 1980, Prata é atuante no carnaval paulistano. Com 62 anos, admite que as histórias dos orixás são bonitas, “mas na minha visão de sambista e compositor, a gente tem várias outras histórias para contar”.
Em 2024, a escola de samba Em Cima da Hora Paulistana levou os nordestinos para a avenida. É preciso variar temas.
Quando não é uma escola, é outra.
Paulinho da Leandro – da emblemática Leandro de Itaquera – conta que “faz tempo que as Ecolas vêm batendo nesse tema, e ficou cansativo, ficou maçante. Começou um boom de falar sobre orixás.
Com 25 anos de samba e 58 da idade, Paulinho integra a Velha Guarda e a Ala de Compositores da Leandro de Itaquera. Está todo dia na Fábrica do Samba, onde são produzidas fantasias e adereços. Íntimo da produção carnavalesca, ele tem uma explicação para a repetição temática.
“Todo mundo começou a reutilizar material, por isso que deu esse monte de enredo falando de orixá. Não vão no mesmo santo todo ano, mas vão no mesmo tema. Ogum vira preto velho em outro desfile”, diz.

Paulinho da Leandro tem 25 anos de samba e aponta a reciclagem como um dos motivos para repetição de temas.
Foto: Arquivo pessoal
No ano passado, a Leandro de Itaquera foi para a avenida com tema de orixá. Em 2025, vai falar de preservação do meio ambiente e começou a produção de fantasias e adereços do zero, sem reaproveitar objetos. “O foco nosso é a questão da natureza, é um grito de alerta: a palavra-chave é preservação”, explica Paulinho.
Quem não fará desfile de orixá?
Para o compositor Marcelo Tamborim, “independentemente do tema, afro ou outro, nós vamos continuar sempre compondo porque somos sambistas e o samba corre nas veias”, diz.
Entre as escolas que realizaram desfiles sem tema afro no ano passado está Em Cima da Hora Paulistana, que cantou os nordestinos. A Só Vou se Você For defendeu o Pantanal. E a Estação Invernada, o reino de Drácula.
Os desfiles das 65 agremiações que compõem a União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), fundada em 1973, começam em 22 de fevereiro. Eles acontecem em dois locais de São Paulo, nas zonas leste e oeste.
Fonte: Visão do Corre