Com o enredo “Ómi Tútú Ao Olúfon – Água Fresca Para O Senhor De Ifón”, o figurinista e carnavalesco Leandro Vieira, 41, vai levar para a Sapucaí com a Imperatriz Leopoldinense uma história inspirada na mitologia iorubá, trazendo à tona a sabedoria ancestral e os ensinamentos dos orixás.
Ao UOL, ele conta que a pesquisa foi fruto do seu diálogo pessoal com Ialorixás, Babalorixás, Ekedis e Ogans.
“O mito em que o Enredo se debruça é resguardado pela oralidade. Uma profunda e rica marca das tradições de matrizes africanas. Desse modo, a pesquisa para o Enredo é marcada pela escuta e opera no campo daquilo que a poetisa mineira Leda Maria Martins chama de Oralitura”, descreve ele, campeão do Grupo Especial pela escola, em 2023. “Ou seja, uma literatura oral, de saberes ancestrais que são resguardadas pela memória dita.”
Oxalá, Exu e a lição de humildade
O enredo da Imperatriz Leopoldinense se passa no continente africano, mais precisamente em Ifón, terra de Oxalá, considerado o pai da criação. Oxalá decide visitar seu amigo Xangô, o rei de Oyó, conhecido por sua justiça e força. Antes de partir, ele consulta um babalaô, que alerta sobre os perigos da jornada e recomenda que Oxalá leve três mudas de roupas brancas, sabão da costa e, principalmente, que faça um ebó a Exu, o senhor dos caminhos, para evitar problemas.
Mas Oxalá ignora a oferenda e parte. Durante a jornada, Exu aparece três vezes, com provações: primeiro, derrama carvão sobre ele. Depois, vinho de palma e, por fim, azeite de dendê. A cada vez, Oxalá precisa se lavar e trocar de roupa, até que suas vestes brancas ficam sujas. Para completar, durante o sono de Oxalá, Exu amarra um fardo de sal nas costas do orixá, deixando-o com uma aparência corcunda.

Leandro Vieira e Catia Drumond, presidente da Imperatriz, celebram o campeonato de 2023
Imagem: Lucas Landau/UOL
Ao chegar em Oyó, Oxalá é confundido com um ladrão e preso. Ele passa sete anos encarcerado, enquanto o reino de Xangô enfrenta seca, miséria e ruína. Somente quando Xangô descobre a injustiça cometida contra seu amigo, ele ordena que Oxalá seja libertado e banhado com águas frescas, restabelecendo a pureza e a harmonia no reino.
A mensagem: respeito, humildade e tradição
O objetivo do enredo é trazer uma lição sobre humildade, respeito às tradições e a importância de honrar os caminhos e os guardiões que os protegem. Para Leandro Vieira, sua criação é um processo de entrega e paixão: “Não vejo desafios na proposta e sim o extremo prazer de fazê-la.” E completa:
“Sou um apaixonado pela cultura do meu povo, e o Enredo é o Brasil que eu acredito. Brasil da fé e da festa. Do profano que dá a mão ao sagrado sem lhe causar dano. Do sagrado que ganha contorno alegre e, por isso mesmo, ganha é ainda mais potente.”
Leandro Vieira
Luiza SoutoColaboração para UOL, do Rio de Janeiro