Rainha de Bateria da Unidos de Padre Miguel conta como Reinado a salvou da depressão
Dos sonhos que uma Passista de Carnaval carrega em sua história, o de se tornar Rainha de Bateria está no topo. E foi exatamente esse o que Andressa Marinho realizou ao ser Coroada na Unidos de Padre Miguel. Cria da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a jovem de 22 anos foi alçada ao Trono da Escola para em 2025 fazer sua estreia na Sapucaí.
“Sempre fui passista da Unidos para Miguel. No ano passado, tinha acabado de ser promovida ao Cargo de Musa da Comunidade, que já era um momento de extrema felicidade para mim, de estar ocupando um cargo que é tão desejado por todas as Passistas”, relembra.
Foto: gshow/Marcos Serra Lima
A moral de Andressa Marinho com sua Comunidade estava tão alta, que a Direção da Escola até cogitou promover um concurso para eleger a Rainha de Bateria que estrearia com a Escola no Grupo Especial. Mas não foi preciso. Os Integrantes da Agremiação queriam Andressa, que foi prontamente levada ao Posto pela Direção da Escola, em um quase Conto de Fadas Carnavalesco.
“É total valorização ancestral, de que as coisas estão caminhando para o lugar certo. Venho desde muito pequena nessa trajetória e parece que sempre caminhei nesse sentido, para que tudo acontecesse dessa forma na minha vida”, celebra.
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
E é embalada por essa ancestralidade que Andressa revela seu hábito imprescindível nessa época do ano na série de Ensaios de Carnaval do gshow 2025, “Todo mês de fevereiro aquele passo” – sobre os costumes que as beldades têm nessa época do ano. Para ela, o cabelo e os looks, tem que ter essa pegada.
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
“Sempre penso em coisas que fujam do normal. Gosto de coisas que não são comuns, em algo que nunca foi visto. Gosto de abusar, de mostrar um cabelo que ninguém está acostumado, com uma roupa com um bordado que ninguém nunca viu. Gosto de chamar atenção, gosto de impactar”, analisa.
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
“Encontrei a minha liberdade e força de expressão, além do acolhimento, no Samba. Quero muito deixar essa ideia bem claro que, tanto no Samba quanto no Carnaval, você é livre para ser quem você quiser, fazer o que você quiser, evoluir como mulher dentro da nossa cultura.”
As pedras no caminho ao Trono
A trajetória até a Realeza não foi fácil. Pelo menos é o que Andressa Marinho garante. Em outra oportunidade, durante o Concurso da Corte do Carnaval Carioca de 2023, ela viu a sua primeira Coroa ir para um destino diferente. O desapontamento veio em um momento inoportuno, em que ela estava lidando com outras adversidades, após o nascimento de seu primeiro filho.
“Estava em uma pegada de bastante sofrimento interno, de traumas. Tive meu filho, passei por uma depressão pós-parto, passei pelo concurso, que não consegui ganhar. Passei por tantas situações que me colocaram em um lugar que não acreditava mais em mim. Passei pela escuridão, mas está tudo clareando. Hoje me sinto emocionalmente muito mais segura, acolhida dentro da minha Escola. É um lugar familiar, onde estou tranquila “, diz.
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
A virada veio, no encontro com a Coroa, com o Trono e com a sua Comunidade, que fizeram com que Andressa se vestisse como Rainha de Carnaval.
“O pós-parto me atingiu com uma depressão. Você desacredita de você, não sabe se vai ter a mesma liberdade, as mesmas oportunidades e o próprio reencontro com o corpo. São muitas inseguranças. E a conquista da Coroa de Rainha de Bateria foi uma virada de chave em tudo, no meu psicológico, no meu físico… É como se eu tivesse passado por tudo isso e, com essa vitória, recebi a minha recompensa. A Coroa veio no momento certo e encaixou muito bem na minha cabeça.”
Andressa Marinho — Foto: gshow/Marcos Serra Lima
Coroa na cabeça e pés no chão
Com a Coroa na cabeça e os pés fincados na Comunidade que a viu crescer, Andressa Marinho carrega um propósito que vai além da festa do Carnaval. Para ela, ocupar o Posto de Rainha de Bateria da Unidos de Padre Miguel tem um significado que ultrapassa a realização pessoal: representa a valorização das Passistas e da própria Comunidade dentro da festa.
“O primeiro impacto do meu Reinado foi por eu ser uma menina da Comunidade, uma Passista. E esse é o nosso lugar, porque a gente está ali o ano todo, vivendo o Carnaval, dando sangue e dedicação. E, como pessoas da Comunidade, gostaríamos sempre de ver nossos iguais em posições de destaque”, reflete.
Vitória da representatividade
A conquista de Andressa se soma a um movimento crescente no Carnaval carioca, que busca abrir espaço para mulheres das próprias Escolas ocuparem o Posto de Rainha de Bateria. Das 12 escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro, em 2025, seis são meninas da Comunidade. O que para Andressa é um caminho que precisa e pode ser ampliado.
“O Carnaval está mais do que pronto para virar esse jogo, de ter mais Rainhas de Comunidade. A gente está mais do que preparado para que o nosso povo assuma Cargos de Destaque e de liderança”, diz plena e vitoriosa.