Erika Januza sempre sonhou em vivenciar o universo do Carnaval. Mas, por ter crescido em Contagem, Minas Gerais, apenas observava o ritmo da Bateria no sambódromo pela televisão de sua casa. Anos mais tarde, ao mudar-se para o Rio de Janeiro, pôde enfim realizar seu desejo de infância. “Quando eu era criança, ficava vigiando para ver se aparecia a vinheta de alguma coisa, para eu ter um fragmento do que estava por vir, e aquilo era muito importante para mim“, lembra ela, em entrevista a Marie Claire.
“Eu sempre tive um fascínio muito grande pelo Carnaval na televisão. Era uma coisa que eu passava o dia inteiro esperando. Todo mundo ia dormir e eu só ia quando acabava a última coisa, ou então dormia na sala com a TV ligada”, conta a Atriz, que aprendeu a sambar vendo a Globeleza, porque ninguém de sua família sabia.
Em 2013, Erika estreou na Sapucaí como Musa do Império Serrano, graças a sua Personagem na série Suburbia, que foi coroada como Rainha de Bateria na ficção. “Desde então, nunca mais parei. Só precisava vir para o Rio de Janeiro. Depois que vim para cá, nunca mais larguei. Não passei nenhum ano sem Desfilar”.
“Quando vi [a Folia] de perto, entendi o quanto isso movimenta a vida das pessoas, o quanto historicamente tem uma representatividade forte, o quanto a base do povo negro tem na formação do Carnaval, e o quanto é ritmo de família para muitas pessoas.”
A Artista reitera que há “famílias inteiras que trabalham dentro dos barracões” e isso “gera renda e movimento no nosso país”.“Além de ser culturalmente enriquecedor, pois a cada ano aprendemos mais sobre um monte de Enredo, novas histórias que passamos a conhecer. Às vezes, algumas que a gente nem sabia, outras nas quais nos aprofundamos. Eu sou apaixonada por tudo”, afirma.
Hoje ela é Rainha de Bateria da atual campeã do Carnaval carioca, Viradouro, Posto que ocupa há quatro anos. Neste ano, a temporada será especial por vários motivos: além de Desfilar, Erika também apresentará o Programa Rainhas Além da Avenida, que estreia nesta sexta-feira (14) no GNT e mostra os bastidores das mulheres que assumiram essa função. “Tive a oportunidade de passar pelo menos um dia inteiro com cada uma delas, convivendo, trocando ideias, vivendo o outro lado dessas mulheres de verdade.”
Outra razão que torna 2025 mais especial é o convite do Consulado Brasileiro na África do Sul que a atriz recebeu para conhecer o Carnaval da Cidade do Cabo. “Eles viram meu trabalho e me convidaram. Fiquei muito feliz por isso. E por toda essa história que venho contando nos meus Carnavais, foi uma honra ser escolhida. Me senti valorizada”, celebra.
“Um lugar que muitas pessoas gostariam de estar”
Apesar de sentir a pressão por conta do Título, Erika garante que não deixa se levar por isso. “Ser Rainha de Bateria já é uma pressão naturalmente, porque as pessoas estão o tempo todo te observando para julgar se você está sambando bem ou não, se a roupa está boa ou não, se você está faltando ou se está presente.”
“Então, se não focar no seu equilíbrio, você pira. Acho que no início eu ficava mais agitada com isso. Pensava: ‘Não estou fazendo Coreografia, meu Deus! Fulana faz Coreografia e eu não faço, só Sambo. Tá errado, tenho que aprender a fazer Coreografia também.’ Mas aí entendi que cada pessoa tem seu perfil, o meu é do que gosta mais do Samba no pé, e isso basta.”
Erika Januza ocupa o posto como rainha há quatro anos — Foto: Renata Xavier
Para ela, é “sobre encontrar o seu lugar performático dentro disso”. “O que você fala e como representa a sua Escola conta muito. Então, se vou a um lugar e falo um monte de bobagem, a minha cara, como Rainha de Bateria, está representando aquela Agremiação. É importante ter cuidado com o que você fala, com o que representa e com o que sabe sobre o que está acontecendo na sua Escola. Não sou eu que vou lá atrapalhar. Quero somar, não atrapalhar. Então, me cobro neste lugar de estar bem preparada para representar o local que me foi dado.”
A importância da representatividade
Erika entende que estar a frente da Bateria como mulher negra e retinta, que faz parte de uma parcela menor dessa representação, é um lugar de grande responsabilidade. “As mulheres negras se olham e veem que uma mulher negra pode ser Rainha, pode estar em um lugar de Destaque, pode ser parte dessa realeza, pode Reinar ali.”
“Isso é muito poderoso, principalmente no Samba, que tem uma origem tão negra e uma base de um povo que construiu esse universo, desde quando o samba foi marginalizado e escondido, até se tornar uma das maiores festas do mundo.”
Por isso que, estando onde está e vendo outras meninas a abraçando e dizendo que se inspiram nela, é muito potente para Erika. “Isso me faz querer representar da melhor forma possível, porque é um lugar que muitas pessoas gostariam de estar. Eu, um dia, já quis muito estar ali. E se esse é o meu momento, quero representá-lo da melhor maneira. Por isso, estou sempre criando, homenageando, fazendo programas e trazendo novidades.”
O Carnaval para as mulheres, segundo Erika, é reenergizante. “É uma época em que me canso muito, mas cada Ensaio que eu faço me faz tão bem. Eu me sinto bem fazendo aquilo, por mais que seja cansativo e tenha muita coisa para fazer. Recarrego as energias sempre que vou para os Ensaios. Acho que é um momento das mulheres brilharem, elas se iluminam nessa época”.
“Acredito que preciso de corpos diversos”
A Atriz descobriu logo no primeiro ano de Carnaval que a melhor preparação para aguentar a maratona de Desfiles é estar nos Ensaios. “Isso faz com que seu corpo se prepare da melhor forma para o grande dia. Porque você já sabe o tempo, já conhece as batidas de tudo e é um cardio muito poderoso. Não existe cardio na academia que substitua o que é estar do lado da Bateria, além do poder de estar com a Comunidade se preparando para aquele momento”, garante.
Dessa vez, Erika também conta com a ajuda de um nutricionista para a ajudar a ter mais energia e disposição. “Também estou na academia com mais frequência, mas me arrependo de não focar nisso o ano inteiro. Só quando faltam uns três meses para o Carnaval é que eu começo a correr atrás. Mas entendi que não sou a Rainha sarada. Sou a Rainha que vai com o corpo que tem. Não sou uma mulher musculosa, não é o meu propósito ser uma mulher fitness. Como Atriz, acredito que preciso de corpos diversos. Já emagreci 10kg para fazer uma personagem, então não é meu foco ser musculosa. Quero estar bem comigo mesma e saudável. O principal é ter fôlego para atravessar”, diz.
Erika desfila no Carnaval desde 2013 — Foto: Renata Xavier
A Artista ainda refletiu sobre a complexidade de estar exposta ao olhar público durante as festividades, alertando para o fato de que a exposição do corpo não implica que esteja disponível. “Acaba que meu corpo fica vulnerável a críticas e ao julgamento dos outros. Então, a gente tenta se cuidar como pode, mas ele nunca vai ser igual ao de outra pessoa, cada um tem o seu.”
Para ela, as Redes Sociais amplificam essa questão, pois na internet muitas pessoas acreditam que estão em um espaço “sem lei”, onde as críticas podem ser feitas sem considerar o impacto emocional do outro lado. “Não são críticas construtivas, são destrutivas. Eu acho muito triste essa coisa de comparar, como se o corpo de fulano fosse melhor que o de ciclano.”
Por Bruna Liu, redação Marie Claire — de São Paulo (SP)