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Negro Rei vive! Musical conta a vida de Martinho da Vila em São Paulo

Na última quinta-feira (19), estreou em São Paulo, o espetáculo “Martinho, Coroação de Rei – o Musical”, com Direção de Miguel Falabella, Jô Santana e Dramaturgia de Helena Theodoro. A apresentação da obra, que ocorreu no Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, foi realizada para convidados. O público poderá acompanhar o musical a partir desta sexta-feira. Fato é que é um lindo espetáculo. As encenações retratam a vida de Martinho corretamente. Quem é fã do sambista, sairá do local ainda mais apaixonado. Quem é apenas um admirador, com certeza irá virar fã de carteirinha. O espetáculo retrata bastante a negritude de Martinho, a ancestralidade e a África com a cultura nacional. Danças afros, músicas com instrumentos do continente e orixás dão o tom do show.

O espetáculo é feito em vários momentos. Começa com um griô exaltando a África e, após, os atores que interpretam Martinho da Vila entram em cena o tempo todo. Todos atuam de forma brilhante, mas vale destacar o ator Alan Rocha, que reproduz uma voz idêntica a do homenageado, além da aparência lembrar o músico nos anos 1970 e 1980.

Todos sabem da forte ligação que Martinho da Vila tem com a escola de samba Unidos de Vila Isabel. Por isso, um ator representando Noel Rosa, icônico personagem do bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, também aparece para contar em forma de ‘setores de desfile’. Ele se manifesta na figura de um anjo, mas com uma personalidade caricata. A atriz, que simboliza a mãe do homenageado, Teresa de Jesus, diversas vezes entra em cena.

Há muitas outras coisas, vários sucessos do artista são cantados e outras encenações importantes da vida de Martinho são mostradas. Encerrando o musical teve uma roda de samba com presença das filhas Mart’nália, Analimar Ventapane e Maíra Freitas, além da neta Dandara Ventapane fazendo parte do elenco do musical. Vale destacar que a obra estará disponível para o público em geral a partir desta sexta-feira e terá o seu encerramento na próxima segunda-feira.

“É lindo. Fazer esse espetáculo é muito bonito, trazer Martinho para luz é muito importante. Essa africanidade que ele traz eu tentei recriar no palco. É um ícone do Brasil, está tudo no espetáculo e com certeza as pessoas devem assistir”, disse o diretor Miguel Falabella.

Exaltando a negritude

O ator Jô Santana é especialista em produzir musicais em tributo a artistas, trabalhando pela empresa Fato Produções Artísticas. De acordo com um dos responsáveis pela obra, foi um trabalho grandioso e é uma honra falar sobre a história do Brasil junto com Martinho. “É uma honra contar a história do Martinho. Fazer isso é contar a história do Brasil. Fazer esse recorte. É contar a nossa ancestralidade, como está no espetáculo. Não dá para contar a história do Martinho, a história do Brasil, sem falar do negro. É um trabalho muito grandioso que foi feito no coletivo, com a direção do Miguel Falabella e da nossa querida assistente, Iléa Ferraz”, declarou.

Outra profissional que atuou na linha de frente do projeto, Iléa Ferraz, falou sobre a importância de tudo que envolve Martinho da Vila, sobretudo a África com o Brasil. “Falando da dramaturgia, da construção deste musical, é beber das raízes da África para trazer a história do Martinho, trazendo também a história do Brasil, ressignificando a partir da ótica de um homem negro que trouxe a realeza. É contar a história negra de uma maneira muito positiva, trazer as raízes, todas as grandes influências da cultura popular, trazer a folia de reis, trazer os itans, as lendas africanas para contar a história desse grande brasileiro que fez a obra dele um caminho para se falar sobre África e sobre o Brasil. A dramaturgia se centra exatamente nisso, onde a África é o berço do mundo e da cultura brasileira”, explicou.

A diretora explicou os ensaios e a exigência que um artista deve ter para trabalhar em uma peça deste tamanho. “Normalmente, o ensaio musical dura dois meses. Foram aproximadamente 70 dias de muita dança, muita atuação, muita música, muita pesquisa, muita conversa e muitos ensaios. Um artista de musical tem que cantar, dançar e atuar com excelência. A exigência é muito grande. Você tem que ser forte em todos os sentidos”, contou.

Iléa exaltou o talentoso elenco estrelado quase que inteiramente por pessoas negras e, de acordo com ela, é de honraria ver pessoas dessa importância crescendo cada vez mais no ramo. “É um elenco extraordinário. É lindo ver uma geração nova de atores negros galgando nesse caminho do musical. O Brasil é o quinto país que mais produz musicais no mundo. A presença do artista negro está realmente chegando agora, e a Fato Produções é muito responsável por isso, porque ela tem contado as nossas histórias. Tem inserido as histórias dos grandes personagens negros nos musicais. É uma grande honra e eu fico muito feliz. Eu como uma artista mais velha, ver essa geração de artistas negros e potentes, tem sido muito gratificante”, comentou.

Ótimo elenco e emoção de assinar primeira obra

O coreógrafo da peça, Rafael Machado, relatou emocionado que o musical do Martinho é a primeira obra que ele assina oficialmente, apesar de ter feito vários outros trabalhos. O dançarino contou suas experiências para se inspirar na feitura do tributo. “A emoção é imensa, porque é a primeira vez que eu assino a coreografia de um musical, depois de 18 musicais na minha carreira. É fantástico falar de Martinho, sobre essa cultura preta maravilhosa que é a minha. Outro dia me perguntaram como foi a inspiração. Digo que foi a minha vida toda. Eu fiz dança de salão, estudei ballet, dança afro, jazz e está tudo aí embasado na obra genial do Miguel Falabella e Jô Santana, alicerçado pela mestra Helena Teodoro… Mas é muita emoção. Eu fui pai agora também. Tem sido fantástico na minha vida”, destacou.

Rafael diz que os ensaios foram fortes, visto que há muita dança na apresentação. Houve participações de outras pessoas, segundo o coreógrafo. “Foi pesado, porque é um espetáculo bem dançante. A gente teve duas semanas só de dança. Tivemos aula com a Tainara, tivemos aula com a Geisa Ruiz de ballet… E aí é muita dança. Ensaiamos dois meses e duas semanas, mais ou menos. Mas é um elenco muito maravilhoso. Foi delicioso”, contou.

O profissional agradeceu profundamente o seu elenco, exaltando a qualidade de todos os envolvidos. “O bom é a gente ter o privilégio de trabalhar com gigantes. Nós temos no elenco pessoas gigantes. Eles são generosos, talentosos, valentes, disponíveis. Aí fica fácil trabalhar. Agradeço muito a eles”, afirmou.

Revolução do samba e grandes elogios à obra

O evento contou com uma presença ilustre do mundo do carnaval. O ex-intérprete e ex-presidente do Vai-Vai, Thobias da Vai-Vai, compareceu para assistir ao espetáculo. Um dos maiores cantores de samba-enredo que já passou pela Tiradentes e Anhembi elogiou o teatro. “Eu quero fazer aqui o meu elogio pela iniciativa do Jô. Eu pude vir em todos os musicais que ele fez, desde o primeiro, que foi sobre o Cartola. Eu fiquei sabendo antes, quando ainda era um projeto na cabeça dele e torci muito para dar certo. Ele fez o primeiro, o segundo e aí chegamos aqui no Martinho da Vila. Para mim o samba é dividido em duas partes: Antes e depois do Martinho da Vila. É um sambista diferenciado, é um homem que colocou o nosso samba em outro patamar de A a Z. Todo mundo gosta e conhece o Martinho. É sucesso nacional e internacional. O arranjo dessa produção está muito bonito. O Miguel Falabella e o Jô fizeram uma dobradinha muito legal”, disse.

Thobias é um grande admirador de Jamelão. O saudoso intérprete carioca foi retratado em determinado momento da peça junto com o ator de Martinho. O vai-vaiense aprovou a atuação e disse que voltou no tempo. “Eu estou fazendo um tributo ao Jamelão, que eu convivi com ele há alguns anos. Foi o meu incentivador, sempre me respeitou e eu sempre respeitei. A gente teve algumas histórias muito engraçadas juntas. Foi muito legal a interpretação do ator fazendo o Jamelão. Passou um filme na minha cabeça”, contou.

Apesar de todos os elogios, o cantor lamentou a falta de reconhecimento que o samba tem sofrido. Segundo Thobias são muitas promessas que não saem do papel, além da falta de apoio para fazer mais espetáculos como o tributo ao Martinho da Vila. “Infelizmente a gente não tem esse reconhecimento todo. Eu fico vendo esse elenco maravilhoso e falo como o nosso povo é talentoso. Eu vejo muito discurso, mas poucas ações. Tem essa história de ‘não basta não ser racista, tem que ser antirracista’, mas na hora de procurar apoio para poder desenvolver a sua arte, é complicado. A nossa cultura é muito rica, mas o que falta é investimento”, finalizou.

SERVIÇO

Teatro Sergio Cardoso – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Bilheteria física do teatro sem taxa de conveniência
Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 14h às 19h. Em dia de espetáculo, das 14h até o horário de início da sessão.
Contato: (11) 3288-0136
Bilheteria on-line: www.sympla.com.br
Reservas para grupos: bilheteria@amigosdaarte.org.br
Classificação: 16 anos

Sessões
Sexta-feira e segunda-feira, às 20h00
Sábado, às 15h e às 20h
Domingo, às 16h

VALOR DE INGRESSO

Setor Canta, Canta, Minha Gente
R$ 15,00 e R$ 60,00
Setor Casa de Bamba
R$ 100,00 e R$ 200,00
Setor Tom Maior
R$150,00 e R$75,00

Foto: Lima/Redes Sociais

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