NOTÍCIAS

A história de garra e superação de Quitéria Chagas, a Rainha da Bateria do Império Serrano

O Desfile deste ano tinha tudo para ser especial para a Rainha de Bateria do Império Serrano, Quitéria Chagas. Aos 44 anos, e 25 de Sapucaí, ela está retornando ao Posto, coroando uma trajetória — nem sempre fácil — que relembra na biografia com lançamento programado para o próximo dia 24, na Livraria da Travessa, da Barra da Tijuca. “Quitéria Chagas — do carnaval para o mundo: a Rainha que quebrou barreiras” narra ainda estigmas, preconceitos e bullying sofridos por ela.

A verde e branco de Madureira também passava por um momento bom, com chances reais de Disputar o Título de Campeã da Série Ouro, passaporte de volta à elite do Carnaval carioca, até que o incêndio na Maximus Confecções, em Ramos, na manhã de quarta-feira, consumiu o sonho e quase todas as Fantasias. As dos Ritmistas e de sua Rainha só se salvaram porque eram feitas fora dali.

Com isso, o desejo de retornar ao Grupo Especial foi adiado, já que a apresentação da Agremiação não contará pontos. Mas, acostumada a driblar adversidades, a Soberana, que ostentava o Título de Rainha da Escola até o ano passado, não se deixa abater.

— O objetivo de voltar ao Grupo Especial virou cinzas. Mas a gente vai Desfilar com mais garra, com mais raça. Pelo que conheço do Império Serrano, a Escola virá com um chão absurdo — prevê, ao ser indagada sobre a volta da Escola à Sapucaí para o Ensaio Técnico na noite de hoje (16).

Como a fênix

Superar dificuldades nunca foi problema para Quitéria. A perda do marido, o italiano Francesco Locati, aos 57 anos, para o câncer, em 2023, foi seu último grande Desafio. A volta para o Brasil com a filha Elena, de 9, depois de sete anos morando na Itália, foi encarada por ela como um “renascimento”. Assim como a fênix, a ave da mitologia grega, ela diz estar sempre pronta para renascer das cinzas.

No dia do incêndio, antes mesmo de a Direção se manifestar, ela foi para as redes sociais dar força para a Comunidade. “A gente vai se reerguer”, disse no vídeo, lembrando um trecho do Samba-Enredo de 2006, que dizia; “Imperiano de fé não cansa/ Confia na lança do santo guerreiro/ E faz a festa, porque Deus é Brasileiro”.

Este não será o primeiro baque da escola. Apesar de ser das mais tradicionais e vitoriosas do carnaval carioca — tem nove campeonatos —, já enfrentou vários altos e baixos, um deles em 2020, quando a ala das baianas desfilou com fantasias incompletas, entre outros problemas que quase resultaram no seu rebaixamento para a Intendente Magalhães. Nada que abale a determinação de Quitéria.

Bailarina: começo

No começo da carreira, ouviu de um Dirigente de Escola de Samba que o sonho de ocupar o Posto de Rainha de Bateria não era para ela, por ser preta e pobre, além de anônima. Como não podia ficar rica de uma hora para outra, batalhou para ficar famosa e conseguiu.

O primeiro passo foi vencer o concurso que escolheu Bailarinas para o Programa que Carla Perez comandava no SBT. Para isso, enfrentou uma seletiva no Rio com mais de três mil candidatas. Um ano depois a atração saiu do ar, mas como ela se destacou acabou sendo chamada para ser ajudante de palco do programa do apresentador Gugu Liberato.

Depois disso, atuou também no “Domingão do Faustão”, da TV Globo, fez teste para gravar a Vinheta de Carnaval da mesma Emissora, participações em novelas e, por fim, foi chamada para sair à frente dos Ritmistas na União da Ilha, duas semanas antes do Desfile. Ela conta que a Direção da Escola esperava por uma soberana que pagasse pelo Posto, o que não se concretizou e acabou tendo de optar por uma solução caseira. Na ocasião, ela era passista.

Quitéria diz que sonhava atingir lugar de Destaque nas Escolas de Samba, o que era negado a mulheres negras como ela, numa época em que esses espaços eram destinados às famosas ou àquelas que pagassem pelo Posto. Quando virou Rainha no Império Serrano, em 2006, foi antecedida por Musas midiáticas como as modelos Fabiana Andrade e Vanessa Oliveira, todas brancas.

— Não conseguia compreender por que não via as mulheres pretas como Protagonistas (do Desfile) e nas capas de jornais e revistas, se o Carnaval veio da origem preta — questiona.

Os coquinhos no cabelo, que viraram sua marca registrada nos dez primeiros anos da carreira, foram também uma forma de reforçar a negritude da tijucana, filha de pai marinheiro que virou lutador de artes marciais e depois comerciante, para dar uma condição de vida melhor à filha única. Engajada, se envolveu em várias lutas, como a da valorização das Mulheres no Samba, que resultou na lei que instituiu o Dia Nacional da Mulher Sambista, comemorado em 13 de abril (data do nascimento de Dona Ivone Lara). Também fez campanhas contra a comercialização do Posto de Rainha de Bateria.

‘Vive pelo Império’

Com passagens curtas por outras Escolas, como Vila Isabel e Viradouro, Quitéria tem a imagem mais associada à verde e branca de Madureira, onde é alvo de admiração dos seus pares.

— Quitéria para mim é como filha. É uma excelente Rainha de Bateria, não só na sua postura de sambista, mas também de ser humano e no trato com os ritmistas — elogia Mestre Faísca, Mestre de Bateria histórico do Império Serrano.

O compositor Aluísio Machado, um dos autores do samba deste ano, completa:

— Para mim é difícil dizer se existe outra rainha melhor do que Quitéria. Ela é sambista. É Madureira, conhece a Serrinha, vive pelo Império.

Por Geraldo Ribeiro – Extra – 100 anos de Globo
 
— 

Gostou do conteúdo? Compartilhe!
EXPEDIENTE

Samba Barroca Zona Sul 2025

Samba Mancha Verde 2025

Samba Inocentes de Belford Roxo 2025

SAMBA OFICIAL - ESCOLHIDO

Samba Botafogo Samba Clube 2025

Samba Estácio de Sá 2025