A Marquês de Sapucaí é mais do que as arquibancadas, o recuo da Bateria ou o cronômetro na torre. É chão consagrado por gerações que fizeram do Samba uma forma de resistência e arte. Um patrimônio do povo - e não um objeto de disputa política. O atual impasse entre Prefeitura e Governo do Estado do RJ sobre a Gestão da Sapucaí expõe um jogo de vaidades que pouco tem a ver com a essência da Avenida. Não se trata apenas de quem assina contratos ou autoriza obras. Trata-se do respeito à memória, ao presente e ao futuro de um dos maiores espetáculos culturais do mundo. A Sapucaí não cabe em gabinete. Ela pulsa nos Barracões, nas Quadras, nas Comunidades, pulsa na Costureira que madruga na máquina, no Mestre de Bateria que ensaia o ritmo perfeito, na Passista que sonha em brilhar. É natural que se debatam modelos de Gestão. Mas o que não pode acontecer é o Carnaval ser colocado em risco por uma disputa de Protagonismo. A Festa precisa de segurança, continuidade e planejamento. Precisa de escuta, de diálogo com quem vive e faz o Carnaval o ano inteiro. O que o povo do Samba quer é clareza, parceria e respeito. A Sapucaí não pode ser refém de decisões unilaterais ou de anúncios feitos sem diálogo. A Avenida não tem dono - tem voz, tem história e tem gente que a sustenta com amor e sacrifício. Que os poderes públicos entendam: Governar a Sapucaí é cuidar de um tesouro coletivo. Quem se esquece disso, está fora do compasso.